domingo, 2 de março de 2008
Textos iniciais
Jamille Plautz
As faces da culpa
Dia 17 de julho de 2007. O Airbus A320 da TAM choca-se, às 18h48, contra um prédio da companhia aérea, provocando a morte de 199 pessoas. Entre as vítimas, passageiros, tripulantes, piloto e co-piloto do vôo 3054, funcionários e pessoas que passavam eplo local. O fato mobilizou a imprensa que passou a buscar nos dados fornecidos pela caixa-preta do Airbus, as verdadeiras causas e consequentemente os culpados pela maior tragédia da aviação brasileira. O trabalho das revistas IstoÉ, Época e Veja não foi diferente. Mas em suas reportagens, cada uma delas revelou uma posição e conclusão diferentes sobre o caso.
Em sua edição do dia 23 de julho, a revista Época apresenta uma maéria intitulada "Os erros fatais da tragédia". N areportagem aponta falha mecãnica, devido a um problema em uma peça da turbina e uma possível pane no sistema de freios, como principal causa do acidente. Em segundo lugar vem a falha humana e a pista de Congonhas que, além de estar escorregadia por causa da chuva, era curta e não tinha o grooving - recurso que auxilia na frenagem. A matéria da Época conclui que a investigação das causas deveriam se estender por dez meses, com base nos registros contidos na caixa-preta.
A revista Veja manifestou sua posição a respeito das causas do acidente em sua edição do dia 1o. de agosto, ao atribuir ao comandante, Kleyber Lima, que pilotava o A320, a culpa pelo acidente. "Um erro humano está na origem do pior acidente aéreo da história da aviação brasileira", traz a primeira frase da reportagem intitulada "A tragédia, segundo as caixas-pretas"< No decorrer do texto, a matéria ressalta que as consequências da falha humana podriam ter sido muito menores, não fosse pelas características do aeroporto de Congonhas. Aponta ainda que o fato de o avião estar voando com o reverso - mecanismo que ajuda a desacelerar - direito travado não apresentaria problema, pois é possível voar com o recurso desativado. Mas lembra que neste caso, o piloto deve operar os manetes de forma diferente da rotineira e que isso poderia ter confundido o comandante. Assim como a revista Época, Veja informa que a investigação completa do acidente deve durar dez meses, mas é enfática ao afirmar que "já se chegou a conclusão de que o erro do piloto foi mesmo a causa inicial do acidente".
Em 8 de agosto chegava às bancas a revista IstoÉ, que assim como Veja e Época trazia sua interpretação dos fatos que envovliam o acidente com o vôo 3054 da TAM. Na reportagem "Os erros fatais da tragédia", é descrito o esforço desesperado dos pilotos para parar o Airbus e levantada a suspeita de falhas nos equipamentos. A matéria afirma que "a tragédia na aviação não se faz de apenas uma causa". Aponta como motivo uma série de irregularidades: "PR-MBK não tinha o sistema de alarme de falha na posição do manete, o spoiler não abriu, o computador ignorou o freio mecânico e não acionou a frenagem automática, a pista curta não ofereceu tempo para outra solução nem área de escape e o A320 estava carregado de combustível num aeroporto cercado de prédios por todos os lados". Para finalizar ressalta que "a mairo tragédia na aviação brasileira tem erros de sobra para que um piloto responda sozinho por eles".
Cada uma das revistas apresentou sua versão do acontecimento aos leitores. Ao ler a reportagem da Veja, por exemplo, a pessoa é persuadida a acreditar que o piloto do Airbus foi o grande vilão do acidente. As circunstâncias são importantes para a interpretação dos fatos. A sensibilidade despertada pelas mortes e o sofrimento dos parentes levam os leitores a atribuir culpa a alguém. E a revista Veja induz o leitor a acreditar que este alguém é o piloto. Os leitores da Época, porém, farão outra interpretação e direcionarão a culpa a companahia TAM devido a falha mecânica, apresentada como principal motivo do acidente. Já quem ler a versão da IstoÉ, poderá fazer uma melhor reflexão, pois apresenta todas as causas possíveis do acidente e lembra que o piloto não deve ser responsabilizado por tantas falhas.